sexta-feira, 3 de abril de 2015

Lição de casa

Em meio a tantas notícias de corrupção e roubos, como chegar em casa e ensinar o seu filho a ser honesto? Como dizer a ele que os governantes são, ou deveriam ser, sinônimos de honradez e cara limpa? Afinal, assim como a figura do pai ou da mãe devem ser o exemplo a ser seguido pelos filhos, os nossos governantes deveriam ser também exemplos de cidadãos a serem seguidos pela população. Mas como?
Como, em meio a tanta roubalheira, explicar ao filho, ali, ávido por heróis, ensinar o que é certo e o que é errado? Como dizer que o crime não compensa se os criminosos tomam banhos demorados, lavam suas calçadas sem medo de ser feliz, esbanjam mais do que energia elétrica e água, esbanjam sorrisos falsos, enquanto o cidadão de bem deve tomar o seu banho em segundos para poupar? Poupar para quem?
Sabemos que a criança e o jovem, pessoa que está ainda formando os seus juízos de valores, seu caráter e sua forma de ver o mundo, aprende mais com exemplos do que com palavras e, em posse dessa informação, como mostrar exemplos de bom caráter na humanidade?
Como justificar o nosso voto nas urnas se o nosso escolhido roubou? Como dizer que devemos seguir as leis do governo se o governo virou uma zona sem lei? Um local proibido de ser frequentado por pessoas do bem? Sim, não devemos generalizar. Óbvio. Mas está cada vez mais difícil. Onde começa e termina a corrupção?
E, então o pai e a mãe de família, olham para os seus filhos, ao final do telejornal e dizem como aquela voz empossada e com aquela cara amassada: “Filho, devemos ser honestos, acima de tudo”.  “O mal não compensa, tudo será esclarecido e ao final dessa telenovela, os bons triunfarão”. Quando?
“Quando isso acontecerá e quando a corrupção teve início, papai?” O que responder? Talvez, quando os portugueses chegaram aqui nessa terrinha e trocaram as almas indígenas por espelhinhos? A vaidade, desde o princípio foi a origem de tudo?  Como dizer que os corruptos são eles, se eu apoio o meu filho na mentira sobre o tema de casa? Se furo a fila do pão? Se não devolvo o troco errado que me foi dado? Se eu cedo à chantagem do meu filho que se joga no chão para eu comprar aquele celular apenas para ele parar de me incomodar? Mesmo que eu fique endividado até o Natal? Quando começa a corrupção? Quando o indivíduo troca seus valores por dinheiro, favores ou privilégios?
A corrupção mora ao lado? Devemos fazer a lição de casa. Apontar com dedos impuros não é legal. Devemos sim, ensinar, analisar, repensar, dizer que nós, adultos, também estamos decepcionados, sermos verdadeiros em nossas fraquezas, medos e falarmos, abertamente que essa lição de casa está difícil. Mas devemos falar e fazer a mesma coisa. A prática não deve estar afastada da fala, pois dessa forma, o jovem em formação poderá concluir que, embora as coisas estejam difíceis, a intenção é honesta e a prática vai ao encontro à teoria. 
Por fim, ao levarmos lição para casa, devemos ser honestos com os nossos valores, mesmo que a resolução dos problemas perpasse por lugares obscuros e sombrios, mas como ensinar que o mal não compensa colocando o caderninho do tema embaixo do colchão ou pedindo para o coleguinha fazer o tema por nós?

0 comentários:

Postar um comentário