Esse
tema é muito difícil de lidar. Pais largaram de mão: não querem
nem ler e nem comer o agrião. Alguns professores, por incrível que
pareça, ainda fogem dessa discussão e sobra para os escritores,
editores e merendeiras. De um lado temos as editoras visando apenas o
lucro. E, nessa linha de pensamento, procuram escritores que sejam
comercialmente rentáveis. De outro lado temos os escritores que
tentam adivinhar o que agrada a meninada. E na outra ponta temos as
merendeiras que têm a difícil tarefa de ‘enfiar’ na cabeça e
nos pratinhos da criançada a ideia de que agrião é bom, faz bem,
faz crescer forte e feliz. Quem disse isso? O problema está aí.
Cadê o público-alvo? Sim, onde estão as crianças? Se elas são o
ponto de chegada, devemos tê-las também como ponto de partida. Sim.
O que elas gostam de ler? Ah... E você diria: Elas não gostam de
ler. Na verdade elas odeiam ler. E tem mais, você também diria: E
quem gosta de agrião? Que gosto tem? Eu diria que elas não têm o
hábito da leitura, assim como não possuem o hábito de comer
agrião.
Crianças
que crescem num lar sem pais leitores dirão que odeiam ler. Crianças
que crescem num lar em que os pais discriminam a leitura terão pela
leitura uma forte aversão. Pais que colocam nas mesas as travessas
com porções fartas de agrião e só comem carne com qual moral irá
falar que o agrião é uma maravilha?! Por outro lado, lares que
privilegiam o ato de ler, provavelmente, gerarão filhos leitores.
Famílias que comem agrião na refeição têm forte chance
(provavelmente) de gerar crianças saudáveis e adeptas das saladas e
verduras. Vejam que eu disse provavelmente,
pois
não só de pai e mãe é feito um filho. Existem as companhias. Os
amigos. Os amigos dos amigos e a mídia.
Na
idade infantil a criança ainda está em fase de formação. Assim
como a formação de hábitos e atitudes está também presente a
formação do sentimento. Novidade? Sentimento também se forma. E,
desse modo, a criança, através do exemplo de seus ídolos, formam
para si um conceito para a leitura e para o agrião. Agora tocamos
num ponto chave. Quais são os ídolos que as nossas crianças estão
encontrando por aí?
Voltamos
ao início desse texto. Quem é o nosso público e o que esse público
quer? Sabemos o que uma criança gosta: brincar, jogar, pular,
correr, sorvete, bombom... Mas o que ela gosta de ler? O que ela
gosta de comer? E não podemos ter o receio de falarmos e de
expressarmos o que queremos. Se quisermos adultos leitores e
degustadores de agrião nós temos que prestar atenção no que
estamos passando de ‘exemplo’ para elas. É uma tarefa difícil.
Eu digo que, às vezes, é como um remédio amargo. É ruim, mas faz
bem. Não quero dizer aqui que ler é ruim, mas no princípio, levar
uma criança a gostar de ler é como forçá-la a tomar um remédio
amargo. Vai ser ruim, mas ela vai se curar. Não será legal impor a
ela o hábito de ler. Ela, certamente, irá reclamar, dirá que não
gosta, agirá como aquela criança que diz que não gosta de comer
agrião. Se ela nunca provar, não conhecerá o gosto do agrião.
Quando ela souber que deverá comer verduras no almoço ou no jantar
ela irá provar o agrião e, se não gostar, poderá provar outra
verdura, até encontrar a melhor verdura para o seu paladar. Assim é
a leitura. Devemos ir aos poucos, oferecendo, experimentando todo
tipo de leitura e num certo dia, eis que dar-se-á o BUM e a criança
descobrirá o tipo de leitura que melhor satisfará a sua
curiosidade. Quer que uma criança leia? Desperte nela a curiosidade.
Ela deve sentir vontade de ler até o fim aquela história que ela
começou ou que a professora leu o início da trama na sala de aula.
Então,
mãos à obra! Vamos ler e comer agrião perto de uma criança!
Obs.: Publicado,
originalmente, no site Literário Homo Literatus (09/04/2014)
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