Ler: prazer ou dor? Depende.
Aí, você leitor, me pergunta: Como assim, depende? Depende de quê? Depende de
muitas coisas, caro leitor. Depende do tempo, do momento, do vento, do espaço,
da leitura, da intenção da leitura, da sua predisposição em ler, do enredo da
história, do seu gosto por determinado tipo de leitura e do escritor. Agora
você irá dizer que eu enlouqueci de vez!
Não, não estou louca! Sigam
o meu raciocínio. Cada livro traz em seu corpo letrado não apenas um amontoado
de palavras ritmadas e colocadas lado a lado. Cada livro traz um propósito, uma
missão e vai depender do que você tem em mente ao pegar este livro para ler,
para dizer se ele será dor ou prazer para você. Por isto que, muitas vezes, as
tais ‘leituras obrigatórias’ são tão doloridas para os alunos. Afinal, algumas
leituras são do interesse apenas do professor e nem de longe passam pela
vontade do aluno. Quero deixar claro aqui que não estou falando mal das
leituras obrigatórias, até sou a favor delas (deixemos este tema para outra
oportunidade), mas o caso é que, antes de dizermos: ‘Aquele livro é horrível’,
devemos, sim, dizer: ‘Para mim, este livro não é legal. Não é o tipo de leitura
que me agrada’. Assim, não desmereceremos nenhum livro. Sei que você poderá
falar: ‘Ah, mas tem muita gente que se diz escritor é só escreve porcaria’.
Depende. Vai de cada um, da experiência de leitor que cada um tem. Um leitor
mais experiente (quando digo experiente falo do leitor que lê de tudo, desde
romances açucarados até livros didáticos sobre a Literatura, pois não podemos
dizer que não gostamos de alho se só comemos cenouras) poderá ser mais
criterioso em suas leituras (mesmo assim isto não lhe dará a certeza de que não
sentirá dor ao ler algum livro) do que um leitor com menos experiência em
leitura. Este último sentirá muitas dores ao ler. Faz parte. De acordo com
Goethe, em Os sofrimentos de Werther, escrita em 1774: “(...) A verdade é que
não temos o direito de julgar uma coisa senão depois de a havermos sentido.” Ou
seja, para aprendermos a andar de bicicleta temos que cair muitas vezes. Tanto
a queda quanto a dor são inevitáveis para que sejamos um bom ciclista.
Depende também do estado de
espírito do leitor. Pois, cá entre nós,
tem dias que não queremos ler nem letreiro de ônibus, não é mesmo? E há outros
dias em que acordamos mais entusiasmados, com ânimo, mais alegres, mais
predispostos a encarar um livro. Estes dias são os salvadores da pátria.
Não vou esconder de vocês
que senti, muitas vezes, dor ao ler um livro. Algumas vezes torci o nariz, sim.
Mas, felizmente, o prazer sentido ao ter um livro em mãos foi bem maior. Tão
grande que me fez esquecer as dores sentidas em outras experiências. Por isto
que, como professora, eu preciso ter os objetivos claros ao indicar uma leitura
‘obrigatória’ e entre estas leituras sugeridas eu devo pensar em que agradaria
meus alunos. Qual tipo de livro faria os educandos sentirem prazer? Acertando
neste ponto já terei meio caminho andado para o sucesso de minha atividade
escolar. Da mesma forma, acontece quando eu escrevo. Sempre tenho em mente,
antes de escrever, o que desejo com o que irei produzir, qual público será meu
alvo e, principalmente, se meus leitores sentirão prazer em ler. Obviamente, já
encontrei e encontrarei flores e espinhos. Nem sempre alcançamos 100%, mas a
vida é feita de erros e acertos e eu estou, constantemente, em busca dos
acertos.
Para finalizar esta prosa,
penso que a leitura te conquista não nas palavras óbvias, mas nas entrelinhas. Nas respostas das nossas
questões de vida que estão escondidas entre as palavras, entre os capítulos. O
leitor sente prazer quando a leitura preenche um vazio escondido, camuflado em
seu peito e sente dor por não encontrar nada de novo, nada que o tire de sua
zona de conforto ou por não entender o discurso do autor. E, para alcançar
maiores entendimentos nas leituras é necessário ler. Ler e reler. Ler de tudo.
Jornais, revistas, HQ, ficção, contos, crônicas, resenhas, resumos e as colunas
aqui do site!
Despeço-me hoje com outra
passagem de Goethe: “(...) A espécie humana é de monótona uniformidade. A
maioria trabalha durante a maior parte do tempo para poder viver e o pouco que
lhe resta é como um peso de que ela se procura livrar. Que destino o dos
homens! (...)”. Não deixe, caro leitor, que este trecho de Goethe, obra que,
dita por alguns foi, juntamente com a Bíblia, a mais lida na Alemanha, seja a
tradução de sua vida neste instante. Que sua vida não seja de peso ou de dor.
Que sua vida seja repleta de prazer. Prazer em viver e prazer em ler. Vá agora
em busca de um livro que te faça feliz.
Um abraço,
Cláudia de Villar


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